quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um Corpo na Noite

Saiu da casa e sentiu a brisa noturna envolvente, como um beijo refrescante. Estava em um chale à beira-mar, pertencente à sua família á gerações. Gostava de lá, era seu refúgio, o esconderijo secreto para o qual fugia sempre que precisava de paz para refletir, quando queria sentir a natureza. O chalé localizava-se em local privilegiado: à sua frente estava uma das mais belas praias baianas e o quintal divisava com a Mata Atlântica. Respirou fundo e sentiu no ar o aroma marinho mesclado ao aroma úmido da mata. Uma única estrela brilhava no céu, linda, em meio a uma vastidão escura. Reinava na noite a estrela como uma rainha que ofusca os súditos com sua imensa beleza. Na terra o mar convidava para um mergulho. Porém não sentia-se com disposição para nada. Sua alma, seus pensamentos eram sombrios. Relembrou o que acontecera-lhe e um frio perpassou pela espinha e repentinamente a noite deixou de ser acolhedora. A estrela agora parecia solitária sem o encanto que dantes a envolvera, o mar não já não era amigável, a floresta tinha um aspecto assustador, o vento, agora um coberto de gelo, estendia seus braços gélidos tentando agarrá-la; a atração noturna deixou de existir. Voltou, então, para o chalé tremendo dos pés à cabeça, não por causa do frio, mas porque a lembrança do sonho desfeito a fazia adoecer. Deitou-se na cama e tentou dormir mas as lágrimas gladiavam com o sono para imperar em seus olhos. Sofria de um mal que atingia homens e mulheres em proporções iguais e gigantesca: o mal do amor; amava, porém cria não ser correspondida. Finalmente o sono venceu as lágrimas e trouxe consigo o alívio da inconsciência, antes desejou com forças que o amanhã trouxesse esperança e conforto. Lá fora, imutável, a estrela, testemunha desse amor, longe dali, via um rapaz, alvo desse amor, sofria por ter longe de si a mulher que tanto amava, viu-a fugir para o chalé após um mal entendido, tinha certeza que ela não o amava mais e chorou as lágrimas de quem viu, incapaz, o fim de seu romance. E a estrela contava ao mar esta história onde faltava diálogo e sobrava incompreensão. E o mar em sua sabedoria murmurava entre as ondas: Os seres humanos complicam o que de mais simples existe na vida: o amor. E Deus diz: Se esses dois deixarem o egoísmo de lado encontrarão a felicidade, pois para o amor reinar há de ser necessário a compreensão e o diálogo. By Nelma Ano:2003

Nenhum comentário:

Postar um comentário